Se não fosse lamentável, seria curioso que, a cidade que ontem prestou homenagem a Paulo Cunha e Silva, antigo vereador da cultura de Rui Moreira, foi a mesma cidade onde uma instituição cultural, sob a tutela do Estado central, fechou as portas a uma editora que pretendia lançar um livro, e a um cidadão que pretendia apresentar a sua obra.
Como é evidente a cidade em nada teve culpa. O “veto político” chegou de um directório, neste caso da Direcção Geral do Património Cultural, impedindo assim que o Museu Nacional Soares dos Reis abrisse as portas a Rui Moreira. Quando, para tantos outros autores, em iniciativas análogas, sempre as abriu.
“NÃO QUEREMOS UMA POLÍTICA CULTURAL. A POLÍTICA TEM QUE SER CULTURA”, PAULO CUNHA E SILVA
A explicação de Rui Moreira impunha-se no início da apresentação da sua mais recente obra “Sem Medo do Futuro”, no auditório do Teatro do Bolhão, pois, como referiu, “não pretendi fazer segredo de que o Teatro do Bolhão não tinha sido a minha primeira escolha”. Dirigindo-se a António Capelo e Pedro Aparício, a quem saudou o grande empenho e dedicação na consolidação do projecto da Academia Contemporânea do Espectáculo e do Teatro do Bolhão (recentemente distinguida pelo Prémio João de Almada), agradeceu ainda a pronta resposta positiva para acolher o lançamento do livro.
Acompanhado por António Lobato de Faria, da editora Clube do Autor, responsável pelo lançamento do livro, e por Miguel Guedes, convidado para fazer sua apresentação, Rui Moreira, visivelmente emocionado com a lembrança de Paulo Cunha e Silva, fez “um elogio ao papel”. Na sua opinião, os livros “responsabilizam quem os escreve”. Compromisso de palavras inquebrável, o elogio ao livro surgiu em contraponto com as “caixas de comentário” online, onde, por detrás do escudo do anonimato, se fazem e refazem discursos, considerou.
“É a minha independência que me permite publicar este livro. É importante que as pessoas percebam que não me inibido de ter opinião até ao dia 1 de Outubro. O direito à opinião é também um exercício de liberdade”, defendeu Rui Moreira. E, nesta linha de pensamento, numa clara alusão ao título da sua mais recente obra, reflectiu que “se tivermos medo do futuro, um dia teremos saudades do futuro que não tivemos”.
O livro “Sem Medo do Futuro” resulta da iniciativa da editora Clube do Autor, que congregou escritos de Rui Moreira entre 2015 e 2017. Um compêndio de crónicas, debates e intervenções públicas do actual presidente da Câmara do Porto e candidato independente ao mesmo cargo para o próximo mandato autárquico, agora condensados numa única obra, que reflecte a visão do autor sobre aquilo que se passou no Porto, no país e no mundo durante este período de tempo.