1 Maio, 2018

Bolhão: um amor feliz

Pode um amor impossível ser um amor feliz? Mesmo que o tempo afaste os amantes ou as circunstâncias se interponham? David Mourão Ferreira arguiu que sim no seu único romance: “Um amor feliz”.

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O Porto também. O desacerto entre o desejo impossível da cidade, amante de amor eterno pelo seu mercado, e as sucessivas promessas vãs de reabilitação, acabou 40 anos depois de ser assumida a “urgência”.

A probabilidade do encerramento do Mercado do Bolhão ser um momento de contida emoção e íntima felicidade, era remota. Mas aconteceu sábado, quando a velha sineta, calada há 50 anos, tocou pela mão de Rui Moreira.

Amanhã, as genuínas almas dos vendedores serão guardadas na arca de Noé que representa o mercado temporário, a 200 passos. Uma arca que é um ovo de Colombo. Como o é o túnel que dará acesso à cave. Como é a descoberta de que a cidade não precisa de ninguém para lançar a obra, porque tem independência para o fazer, porque as contas, que dizem serem boas demais (!), são afinal a nossa liberdade. Como é concluir o óbvio: o Porto não queria reabilitar, queria restaurar o Bolhão.

Não está tudo feito, mas a parte do caminho das pedras está. Um caminho que nos trouxe aqui, depois de décadas de avanços e recuos, projetos e demagogias, campanhas, promessas e mentiras…

Sim, durante o ciclo que agora se fecha com incómodo sucesso, o Bolhão teve inimigos. Os piores não foram os que duvidaram da improvável unanimidade, felicidade e tranquilidade com que encerrou. Os piores foram os que, sabendo que se fazia bem, quiseram o mal. Os piores foram os que investiram na teoria do caos, por acreditarem que, mais uma vez, o imobilismo triunfaria e as suas profecias nunca seriam confrontadas.

Vi-os por lá em campanhas, protestos e em missão de envenenamento da opinião pública. Não os vi lá no sábado.

O Bolhão é um mercado, é um monumento e é um símbolo, que os incompetentes preferiam escorado ou no chão, para que assim se cumprisse a agenda ideológica e de ódio contra o progresso, de ódio ao turismo e ao cosmopolitismo e, por conseguinte, contra o Porto que sempre foi feito de Mundo.

Pelo exemplo, o Bolhão pode ser uma arma dos portuenses contra os que, em seu nome, falam de património por razões de interesse pessoal, económico ou político e aceitam prejudicar a cidade em troca de protagonismo. Enquanto a história, olimpicamente, não se encarrega, como neste caso, de os ridicularizar.

Nuno Santos, in Jornal de Notícias, 1 de Maio de 2018

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