29 Junho, 2018

“Game-changer”: 40 milhões de investimento privado para a reconversão do antigo Matadouro Industrial

Quando o mercado olha para Campanhã como território de oportunidades e decide apostar num projecto que transformará, para sempre e para melhor, a dinâmica da cidade e a forma como ela se organiza, é porque alguma coisa mudou. Desde logo, mudou o discurso político, complementado por um conjunto de outros projectos-âncora para a zona oriental impulsionados pelo Município. Só esta mudança explica que haja hoje uma empresa nacional, com sede na Região Norte do país, a querer investir cerca de 40 milhões de euros na reconversão do Matadouro. Foi sobre este case study, que não tardará muito em saltar do papel para o terreno, que Rui Moreira falou no mais recente jantar temático promovido pela Associação Cívica – Porto, o Nosso Movimento.

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Coesão social, cultura, economia e, transversalmente, sustentabilidade. A reconversão do antigo Matadouro Industrial, localizado em Campanhã, “é o projecto que melhor incorpora o pensamento estratégico que temos para a cidade e, por esse motivo, é o mais ambicioso deste Executivo”, sublinhou Rui Moreira, por várias vezes, diante de uma sala repleta de cidadãos que participaram no mais recente jantar temático do Porto, o Nosso Movimento, que se realizou no Restaurante da Fundação Cupertino de Miranda.

Desactivado há cerca de 20 anos, este equipamento municipal era “uma tela abandonada à sua sorte”, descreveu o presidente da Câmara do Porto. Por essa razão, desde o seu primeiro mandato, sempre disse ter a ambição de ali concretizar obra, porque reconhecia ao antigo Matadouro potencial para impulsionar o crescimento da zona oriental. Desde então, o processo foi amadurecendo e sofreu algumas inflexões, que, admitiu, evitaram que outro destino lhe tivesse sido dado.

De facto, o tempo foi o melhor conselheiro e as propostas estudadas tiveram sempre a virtuosidade de indicar o melhor caminho. Como se chegou até aqui? Construir o Terminal Intermodal ou erguer um centro de operação logística foram as primeiras hipóteses avançadas. Mas se é certo que o Terminal ficaria melhor servido quanto mais próximo da estação de Campanhã se localizasse, por outro lado também é verdade que os empresários do sector logístico que visitaram o espaço, a convite do presidente da Câmara do Porto, não se entusiasmaram com a ideia de ali fixar um centro de operações, recordou.

Investimento municipal: a segunda “vaga”

Rui Moreira e o antigo vereador da Cultura, Paulo Cunha e Silva, começaram então a estudar uma solução alternativa, que tivesse a capacidade “de tecer e de bordar o território”, fracturado pela via férrea, pela Circunvalação e pela VCI: um projecto que aglutinasse os três pilares fundadores do programa do Movimento Independente – cultura, coesão social e economia – lograria não só vencer as barreiras físicas, como mitigaria o estigma social associado a esta zona da cidade.

O entusiasmo tomou conta dos dois autarcas ao ponto de, confidenciou Rui Moreira, o antigo vereador da Cultura lhe ter proposto criar no Matadouro algo parecido com as galerias Vittorio Emanuele de Milão, que designou de “galerias Vittorio Emanuele de Campanhã”.

Infelizmente, Paulo Cunha e Silva não veria mais tarde o seu conceito aplicado ao projecto vencedor do concurso público para a reconversão do Matadouro. Visionário como era, tinha previsto “a rua coberta” de atravessamento que fará ligação directa à ponte (já equacionada para vencer a VCI).

Em 2015, tinha portanto ficado claro o que a Câmara do Porto almejava para o seu grande activo patrimonial de, aproximadamente, 29.000 m2. Com o apoio do gabinete do arquitecto Jorge Garcia Pereira, a autarquia desenhou um programa de intervenção que previa a reconversão integral do Matadouro, mantendo a sua memória histórica e natureza arquitectónica. Sustentada nos eixos da coesão social, economia e cultura, a ideia subjacente à nova vida da infraestrutura já contemplava a existência de espaços empresariais e culturais, diversificados e polivalentes, bem como espaços comerciais, de lazer, aliados a uma forte componente social.

O projecto chegaria em Abril de 2015 à 21.ª Trienal de Artes, Design e Arquitectura de Milão e, a convite de Rui Moreira, o filme exibido na ocasião foi (re)visitado no jantar temático. Na apresentação, sentimo-nos sobrevoar o decadente equipamento, perscrutando cada um dos seus recantos e pudemos sonhar com a sua outra vida, a nova que lhe está reservada. Segundo este registo audiovisual, o antigo Matadouro Industrial de Campanhã iria comportar uma “Área de Empresas Criativas e Tecnológicas” nacionais e internacionais; o Museu da Indústria; uma valência dedicada à “Arte e Comunidade”; uma “nave-multiusos” preparada para acolher diversos tipos de eventos; um espaço dedicado às “Artes e Ofícios Tradicionais”, entre outras valências.

Envolver o mercado: a melhor solução

Esta matriz não se perdeu e serviu de base ao concurso público internacional lançado pela Câmara no ano anterior. Como clarificou Rui Moreira, a decisão de repensar o investimento municipal surgiu depois de se perceber que “o mercado estava a interessar-se por Campanhã”. Os sinais eram positivos porque a inversão do discurso político sobre a zona oriental da cidade, como território de oportunidades, começou a atrair os investidores. E, ainda mais evidentes, “quando se verificou que a construção do Terminal Intermodal ia avançar” e que outras obras estão em marcha, como a despoluição do rio Tinto, a duplicação da área do Parque Oriental, ou a construção do Centro de Recolha Animal e, mais recentemente, o anúncio da construção da nova ponte.

Foi então que o autarca lançou um desafio ao mercado, “para ver se era capaz de acomodar aquilo que pretendíamos”. E foi. O interesse suscitado permitiu estabelecer uma Parceria Público Privada (PPP), termo sobre o qual, constatou Rui Moreira, pende ainda uma conotação pejorativa, talvez porque o Estado tenha um passado de maus negócios neste domínio, porque nem sempre conseguiu acautelar o interesse público.

Em boa verdade, o investimento no projecto e na obra de reconversão do antigo Matadouro Industrial é totalmente privado. Sucede que, clarificou o presidente da Câmara do Porto, no caderno de encargos do concurso ficou definido consignar uma área do equipamento à gestão do Município para o desenvolvimento de actividades de cariz cultural e social (o correspondente a 38% da área). Além de que, após 30 anos de concessão, o equipamento regressa à esfera municipal.

Dos 12 milhões de euros que a autarquia se propunha a investir, a Mota-Engil, empresa vencedora do concurso, mais do que triplicou o valor inicial. O projecto de arquitectura – com assinatura conjunta do gabinete português OODA e do conceituado arquitecto japonês Kengo Kuma – convenceu “um júri independente e altamente capacitado” – composto por Manuela Matos Monteiro, do Espaço Mira (uma das primeiras galerias de arte a instalar-se em Campanhã); pelo arquitecto Nuno Valentim, responsável pelo projecto de restauro do Mercado do Bolhão; e por Elísio Summavielle, antigo presidente do antigo IGESPAR e actual presidente do CCB.

O concurso, lançado em Agosto de 2017, chegou ao final em Maio deste ano sem qualquer contestação dos concorrentes, informou ainda Rui Moreira.

O melhor projecto, capaz de cerzir o território de Campanhã

Com recurso a imagens do projecto vencedor e à planta do equipamento, o presidente da Câmara do Porto descreveu aos presentes o que pode a cidade esperar do novo Matadouro. A Mota-Engil irá construir uma grande cobertura e uma passagem por cima da VCI que, “mais do que uma ponte, será um jardim suspenso”, observou. A essência do equipamento será preservada, com o cuidado e a sensibilidade de quem intervém em património histórico. No entanto, o projecto também ousará inovar, através da “sobreposição de diferentes layers (camadas)” que darão uma nova vivência à infraestrutura.

Um dos elementos fundamentais do projecto é a rua pedonal coberta, que o atravessa de ponta a ponta – as “galerias Vittorio Emanuele” que Paulo Cunha e Silva tinha idealizado. Através de “meios elevatórios”, as pessoas podem circular todo este caminho até chegar ao jardim suspenso, que dará acesso à estação de metro do Estádio do Dragão. Este canal permitirá dar vida quotidiana ao espaço, servindo a população local e não fechando o ecossistema.

A Mota-Engil apostará na instalação de empresas criativas e da indústria 4.0, ao passo que o espaço reservado à Câmara, avançou Rui Moreira, servirá para instalar o Museu da Indústria, que aguarda esta oportunidade para se mostrar à cidade. Além do mais, as valências que já constavam da ideia programática de 2015 permanecem vivas neste projecto. As “Artes e Ofícios Tradicionais” incluirão saberes contemporâneos e acções de formação, potenciando uma forte ligação do meio artístico à comunidade (fortalecendo a coesão social). Haverá também sala para reserva de obras de arte contemporâneas e estúdios média e audiovisual, que gravitarão em torno da nave-central.

“Game-changer” ou o grande desafio lançado à cidade que a pode transformar

Para Rui Moreira, este é o projecto mais ambicioso que o Município tem em mãos, porque pode, efectivamente, fazer a diferença e unir toda a cidade, pela primeira vez na sua história.

Estimando que a obra fique concluída nos próximos “três anos e meio”, após o cumprimento de todas as etapas, não tem dúvidas de que o projecto de reconversão do antigo Matadouro Industrial “vai robustecer as operações de reabilitação urbana envolventes”.

Consciente de que a mudança é lenta, mas que já está a acontecer, fez o paralelismo com aquilo que aconteceu no Centro Histórico, zona da cidade onde, não há muitos anos, ninguém queria viver, e que hoje sofre uma enorme pressão porque viu o nível de procura habitacional subiu exponencialmente.
Acredita que Campanhã pode, de facto, suprir essa necessidade de expansão da cidade, porque tem território. Por isso, do que depender do presidente da Câmara do Porto tudo será feito para que “a zona oriental seja hype (atractiva), criando-se as condições necessárias para que as pessoas queiram aí viver”.

Nesta senda, deixou também um aviso: “não podemos ter uma visão arqueológica da cidade, nem podemos viver com medo de fazer coisas arrojadas”. Se essa lógica se seguisse, argumentou, nunca a Ponte Luís I ou a Ponte D. Maria teriam sido construídas.

“A cidade somos nós que a fazemos todos os dias, são espaços vivos em permanente mudança”, concluiu.

Portocracia

Na primeira parte da sua intervenção, Rui Moreira releu o texto que escreveu na apresentação do projecto de reconversão do antigo Matadouro Industrial, disponível para leitura aqui.

Na introdução do debate, Francisco Ramos, presidente da Direcção do Porto, o Nosso Movimento agradeceu a presença de todos os associados e não-associados que compareceram em peso a mais uma actividade promovida pela associação cívica e lançou um renovado convite à inscrição dos que ainda não fazem oficialmente parte do movimento.

Estendendo um agradecimento especial ao presidente da Câmara do Porto pela sua disponibilidade na apresentação deste projecto estruturante, e à presença do Professor Valente de Oliveira, presidente da Assembleia-Geral, Francisco Ramos aproveitou o momento para anunciar que está a ser preparada uma reunião plenária deste órgão associativo, possivelmente ainda durante o mês de Julho. Também avançará, em breve, a primeira reunião do Conselho Consultivo, presidido por Miguel Pereira Leite, no seguimento daquilo que tem sido o “cumprimento escrupuloso do compromisso que assumimos com os associados quando, em Janeiro, apresentámos o Plano de Actividades.

Em terceiro lugar, concluiu, está ainda ser preparada uma nova Conversa à Porto sobre descentralização.

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