Nos últimos anos, a professora universitária tem constatado que toda a cidade do Porto passou a ter pólos de atracção e, quando assim é, toda a cidade ganha. Em termos de equipamentos culturais, a multiplicidade de ofertas, “tanto em Campanhã quanto na Boavista”, consegue aliviar a concentração própria do centro da cidade.
Esta “textura policentrada e entrecruzada” – que inclui habitação, educação, serviços e comércio – proporciona mais ligações entre os cidadãos e devolve ao espaço público o seu revelante papel, reflectiu Isabel Babo evocando o “flanêur” de Boudelaire. Como defende, os espaços comuns são espaços “de construção de identidades”, tanto no plano individual como no plano colectivo, este último onde se enquadram acontecimentos de larga escala, “que os poderes políticos, atentos, favorecem”. No caso do Porto, é na Avenida dos Aliados que esses “fenómenos grupais” mais se verificam, como são exemplo os concertos ou as transmissões dos jogos de futebol.
Nesta perspectiva, a reitora da Universidade Lusófona destacou também o papel das praças, antigamente lugares de encontro, de mercado, de tradição, hoje espaços de “temporalidade”, onde passado e presente, real e virtual se cruzam. Basta pensar que são as praças um dos pontos privilegiados para o acesso à rede wi-fi da cidade, mas que mantendo o seu carácter e a sua “carga simbólica e histórica”, não se descaracterizam.
Em 2025, Isabel Babo espera que a cidade continue “activa e dinâmica”, que mantenha a aposta na Cultura e em projectos como o do Cinema Batalha, que continuem a haver espaços comuns para dinâmicas de acção colectiva, mesmo sabendo que são eventos de natureza efémera, onde o grupo e o individualismo coexistem. “O crime é inversamente proporcional ao número de olhos na rua”, assinalou a professora universitária.
Outra meta estabelecida pela investigadora, mas para 2030, é que 6 em cada 10 jovens estejam a estudar no ensino superior. Quer também ver mais alunos internacionais na universidade, potenciando a possibilidade de fixação na cidade e, assim, o rejuvenescimento da população do Porto. Para isso, entende que o Município deve continuar a encontrar soluções conjuntas de modo a garantir mais alojamento universitário.
Por outro lado, desafia o Porto a pensar como Estocolmo, única cidade a nível europeu que tem conseguido proporcionar aos seus cidadãos habitação próxima do local de trabalho, evitando assim grandes deslocações.
Isabel Babo foi convidada da Grande Conversa à Porto, subordinada ao tema “Que Porto queremos construir até 2025?”, promovida pela Associação Cívica – Porto, o Nosso Movimento, na passada sexta-feira, no ACE – Teatro do Bolhão. A sessão contou com mais dois oradores convidados, o administrador da Sonae e Professor Universitário, Luís Reis, e o professor catedrático e presidente do Conselho de Administração do INESC TEC, José Mendonça, e foi conduzida por Helena Tavares, da direcção da Associação. Rui Moreira, um dos fundadores do Movimento, encerrou o encontro, que pretendeu também assinalar o segundo aniversário da tomada de posse do Executivo independente na Câmara do Porto.
Nota biográfica
Isabel Babo é agregada em Ciências da Comunicação pela Universidade do Minho, doutorada em Sociologia pela École des Hautes Etudes en Sciences Sociales(EHESS) de Paris, licenciada em Filosofia pela Universidade do Porto. É professora catedrática na Faculdade de Comunicação, Arquitetura, Artes e Tecnologias da Informação (FCAATI) e reitora da Universidade Lusófona do Porto. É investigadora do CICANT (Centre for Research in Applied Communication, Culture and New Technologies) e as suas áreas de especialização são a sociologia do acontecimento e da comunicação, as teorias do espaço público, das redes e dos públicos, com artigos e livros publicados.