21 Julho, 2021

A força simbólica do Porto é temida pelo centralismo do Terreiro do Paço

Na primeira sessão das “Conversas à Porto” esteve em debate o tema “Porto Simbólico e Porto Percebido”. Pedro Abrunhosa e Pedro Marques Lopes foram os oradores convidados da conversa, moderada por Rui Moreira, em que se abordou a força simbólica do Porto, as suas bandeiras e o contrapoder que exerce ao centralismo do Terreiro do Paço. Para os dois portuenses, o Movimento Independente liderado por Rui Moreira simboliza uma ameaça ao poder central, o que explica a série de “armadilhas” colocadas no processo eleitoral. A Cultura é um poderoso ativo do Porto, estão de acordo, em contraponto com o tecido empresarial da Região Norte, que, apesar de ser economicamente forte, não tem voz política. Na conversa, concluiu-se ainda que o sistema partidário receia a divisão do país por regiões. Depois do “foguetório” da descentralização, que foi “assassinada à partida”, a regionalização “vai ser adiada para sempre”, sintetizou Rui Moreira.

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No final da tarde desta terça-feira, os jardins da Casa São Roque receberam a primeira Conversa à Porto, promovida pela candidatura de Rui Moreira “Aqui Há Porto”.

Palavra a Pedro Abrunhosa e aos símbolos do Porto: “O Porto simboliza a liberdade, a resiliência (embora a palavra já esteja gasta), a determinação, a rebeldia, a independência e o inconformismo”. Esta forte carga simbólica, considerou o músico, tem associação direta ao centralismo. “Quanto mais lidamos com a relação da centralidade política, não só sabemos que somos isso, como nos orgulhamos de o ser”.

Dado o mote para reflexão sobre o Porto Simbólico, Pedro Marques Lopes analisou o Porto Percebido. “Acho que todos temos uma imagem do centralismo diferente da real e de como ele nos bloqueia. O centralismo não é um fenómeno lisboeta e também é mau para Lisboa. O centralismo é algo associado aos corredores do poder”, sustentou o comentador televisivo, portuense que divide o seu tempo entre o Porto e Lisboa.

Esta realidade, inevitavelmente, condicionou o Porto, afirmou na conversa que foi transmitida por streaming através do Facebook de Rui Moreira e do Porto, o Nosso Movimento (veja o vídeo AQUI na íntegra). “Também trouxe coisas boas para a cidade. Fez com que se desenvolvesse por si própria”, comentou Pedro Marques Lopes, observando que, no entanto, houve um período em que isso não aconteceu.

“Acho que foi quando deixámos de investir intelectualmente e pensar naquilo que somos e no que podemos dar. Correspondeu ao desinvestimento num software que uma comunidade tem de ter: Cultura. Lembro-me quando ouvi o Rui Moreira falar muito sobre esse tema”, recordou o orador, correlacionando esse desinvestimento com o “definhamento” de outros setores de atividade.

“A pulsão centralista é algo que nos asfixia”, continuou Pedro Marques Lopes, que admite que “a culpa também é nossa”, porque “a resistência tem-se tornado ténue”. A exceção vem do Movimento Independente, pela voz de Rui Moreira. “Esse contrapoder está a ser feito, em muito, pelo vosso Movimento”, defendeu.

Pedro Abrunhosa discordou da ideia de que “a falta de meios seja por culpa dos portuenses” e deu como exemplos a deslocalização de bancos e de outras instituições para a capital. Segundo o músico, o centralismo “relaciona-se de forma direita com a pobreza do país” e “a matriz do poder” que dele emana é hegemónica. Por isso, também a linguagem, os meios de decisão, os meios de produção e até os meios de comunicação social são centralizados.

“É absolutamente simbólico o esforço que a RTP fez para esvaziar a voz política e a voz cultural do Porto”, apontou Pedro Abrunhosa, que convergiu com Pedro Marques Lopes num ponto.

“Rui Moreira, com o seu movimento, simbolizou todo um arco histórico que se manifestou como identidade do Porto”, sublinhou. “Este símbolo que o Rui acabou por demonstrar de independência em relação a todos, e de ligação a todos, acaba por ser aquilo que leva a que esteja a ser preparada uma armadilha aos independentes para se candidatarem”, constatou Pedro Abrunhosa.

Num debate sem unanimismos, Pedro Marques Lopes explicou que a falta de voz de que falava está ligada, em grande medida, ao facto de o tecido empresarial da Região não querer ter voz política. “Os empresários do Norte ligam pouco à componente política”. Na sua opinião, estão mais interessados em exportar, situação que se deve repercutir noutras zonas do país.

“Há um alheamento fruto do cansaço. Há desgaste. São viagens atrás de viagens. É mais fácil exportar para fora do que fazer frente política”, contrapôs Pedro Abrunhosa.

“O centralismo do Terreiro do Paço (que não é lisboeta) afeta o desenvolvimento e todo o tecido empresarial”, somou Pedro Marques Lopes. “Ter voz é essencial para fazer política”, reforçou ainda.

Pedro Abrunhosa olhou para o problema de uma outra perspetiva, assinalando que o Porto tem bandeiras. “A bandeira da cultura é importantíssima. A bandeira dos Independentes na política é importantíssima. A bandeira do futebol e a bandeira da força empresarial”, enumerou o músico, destacando que “o Porto afirmou-se, ao longo da história e sobretudo nos últimos anos, por uma cultura moderna”. “O Porto tem uma força imensa que mete medo ao poder central”, declarou.

Ponto de convergência entre os dois oradores. “Não chega criarmos dinheiro. Se não criarmos capacidade política e cultural, não vamos a lado nenhum”, sintetizou Pedro Marques Lopes.

Oportunidade para Rui Moreira intervir. “Há várias razões para não transformar o poder percepcionado, o poder económico em poder político”. “- Claro, isso é que faz massa crítica”, resposta imediata de Pedro Marques Lopes.

E, novamente, a Cultura como contrapoder. “A Cultura é o peão avançado da Economia”. “Uma das grandes asneiras do antigo presidente da Câmara Municipal do Porto foi a ausência de uma referência cultural, que é aquilo que anima aquela identidade”, sustentou Pedro Abrunhosa.

Sistema político tem medo da regionalização

Na parte final da primeira Conversa à Porto, sob o tema “O Porto Simbólico e o Porto Percebido”, Rui Moreira teceu algumas considerações sobre a relação do centralismo com a reforma territorial.

Para o candidato à Câmara Municipal do Porto, “A descentralização é foguetório”, até porque “já foi assassinada à partida”. “Mandam-nos as faturas e colocamos AJAX limpa vidros”, ironizou, para logo refletir seriamente que “vai fazer com que os municípios fiquem com mais contas para pagar. Pior: vai fazer com que os munícipes achem que os municípios funcionam mal”, reforçou.

Quanto à regionalização, Rui Moreira dá o assunto como perdido. “Já percebemos também que a regionalização é uma coisa mais ou menos adiada para sempre”.

“Convenceram que com a regionalização é ‘mais tachos’. Admito que, nalguns casos, pode haver ineficiência, dada a inflexibilidade do sistema e porque 80% dos quadros da administração pública estão em Lisboa”. À memória de todos o caso paradigmático do Infarmed.

Contra uma reforma administrativa, Pedro Marques Lopes advogou que “a regionalização tem de ser política e com eleições para um governo regional”. E Pedro Abrunhosa considerou que “a burocratizacão da máquina regional matou a regionalização no imaginário” coletivo.

De acordo com Pedro Marques Lopes, essa narrativa não é inocente. “Vivemos um período problemático para a regionalização, porque falta de vontade do poder central. Com o enfraquecimento brutal dos partidos, o poder político olha a regionalização como o risco de desagregação do sistema partidário”.

“O vosso Movimento é algo que assusta os partidos, porque há hipótese de este Movimento ganhar a Região Norte”, concluiu.

O arranque do ciclo “Conversas à Porto” contou com a presença de Francisco Ramos, presidente da direção do Porto, o Nosso Movimento, de Fernando Freire de Sousa, coordenador estratégico do programa eleitoral, de vários apoiantes da candidatura e público interessado no tema em debate, tendo sido ainda seguido pelas redes sociais.

A Casa São Roque está integrada no perímetro do Parque de São Roque e é hoje um centro de arte. Abriu ao público em outubro de 2019, reabilitada pelo colecionador de arte Pedro Álvares Ribeiro, que tirou da ruína um antigo palacete e transformou-o num novo polo cultural da freguesia de Campanhã.

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