Não deixam de ser curiosos o timing e o tom que são usados nestes cómicos cartazes, expressos num triste layout com linguagem estilo Bloco de Esquerda e com o mesmo conteúdo populista que até agora vinha sendo reservado à extrema-esquerda mas que, bem vistas as coisas, é o mesmo da extrema-direita.
O timing parece indicar que o PSD já assume que perderá as próximas eleições nacionais e, por isso, a estrutura local do partido já nem sequer se preocupa muito em ajudar o seu líder. Nada de novo, num partido que, no Porto, viu o seu eleitorado abandonar o seu candidato às autárquicas de 2013 e que, em 2017, se viu reduzido a 10% dos votos, um terço do obtido pelo PS, muito menos do que um quarto do que conseguiu Rui Moreira e menos do aquilo que o PCP já obteve em eleições anteriores na cidade.
A velha táctica de plantar notícias, os traços de discurso mitómano, a simplificação comunicacional da demagogia e do ataque a inimigos externos e imaginários não nos devia surpreender. Tendo em conta os antecedentes do partido na cidade, nada disto é novo e nada disto nos deveria fazer rir, como faz o outdoor de campanha autárquica colocado na rua pelo PSD em plenas europeias.
O que surpreende é que um partido que se desmorona e se afasta do seu eleitorado e das suas raízes, não tenha aprendido nada no Porto, depois de derrotas eleitorais de tal forma graves e marcantes para a sua própria estrutura.
O que surpreende é que, sabendo-se que os portugueses tendem ao esquecimento, seja o PSD a lembrar o que era o Porto pré-2013. Que seja o PSD a lembrar que durante a governação de Rui Rio a cidade tenha perdido 80 mil habitantes (que agora começa a recuperar). E que seja o PSD a forçar-nos a recordar que foi o seu actual líder que delapidou o tecido cultural portuense, entregando o Rivoli ao negócio da revista lisbonense. E que seja o PSD de Rui Rio a lembrar que nos deixou uma cidade decrépita, onde 70% do edificado ameaçava ruir, desclassificando o centro histórico da UNESCO.
O PSD pode, é livre, de aderir ao discurso do Bloco de Esquerda. Pode, é livre, de colocar cartazes para as autárquicas em plenas europeias. E pode, sempre, avivar a memória dos portuenses.
Sempre diremos que, depois de Rui Rio sair, a cidade reconquistou a sua vida cosmopolita e mercantil, que sempre teve nos séculos anteriores. Sempre diremos que o desemprego caiu mais de 50% na cidade, desde que o PSD abandonou a Câmara do Porto, em conflito consigo próprio e num clima de traição interna.
O cartaz equívoco de autárquicas do PSD só tem uma vantagem. A de nos fazer recordar que o modelo de desenvolvimento, criação de emprego, atracção de empresas tecnológicas, investimento externo, reabilitação urbana, redução de impostos e preço de água e de implantação de uma verdadeira política cultural, levado a cabo por Rui Moreira, contrasta brutalmente com o modelo de um Porto pobrezinho, cinzento e caladinho de Rui Rio. Um modelo onde as casas eram tão baratas como numa aldeia da Crimeia, porque ninguém verdadeiramente queria viver no Ruirioquistão. Nem havia um único inglês a querer vê-lo, porque ninguém sabia onde era.
O Porto de Rui Rio e do PSD Porto dos 10% é um Porto que apela a uma memória que ninguém tem. Porque quase ninguém vinha ao Porto ver o Porto de Rui Rio. A não ser os que ainda dele não tinham conseguido fugir para outro concelho.
Pode haver quem tenha saudades das prostitutas na Trindade ou do perigo de um passeio à noite pela baixa vazia. Mas se não é esse o Porto de que o PSD tem saudades, então mais valia não ter traído o seu próprio candidato em 2013 e tê-lo deixado prosseguir o seu plano para fundir Porto e Gaia.