A Santa Casa da Misericórdia do Porto assume-se, com todo o mérito, como uma das mais antigas e relevantes instituições da cidade. São já 525 anos de verdadeiro serviço público e dedicação à Invicta, com intervenção nas mais diversas áreas, desde a Saúde à Cultura, passando pela Intervenção Social, Ensino Especial, Educação, Ambiente e Projetos Especiais. O impacto na cidade é enorme, tanto pelo número de estabelecimentos que gere como pelo número de utentes que atende, mas também pelo vasto e valioso património no território.
Durante a visita, integrada na iniciativa “Porto em Movimento”, foi percetível o entendimento sobre os principais desafios que o Porto enfrenta atualmente. A mobilidade, e a necessidade de construir uma cidade mais amiga dos idosos e das crianças, foi um dos temas que esteve em cima da mesa. “Há 10 anos não existia ninguém a falar seriamente sobre investimento em transporte público. Hoje o panorama alterou-se radicalmente, até por via da emergência ambiental. Por exemplo, desde que foi estabelecida a gratuitidade dos transportes públicos para os mais jovens, temos cerca de 400 mil validações por mês na faixa dos 13 aos 18 anos”, revela Filipe Araújo, Presidente do Porto, o Nosso Movimento.
Outra das situações apontadas, e muito focada nos últimos dias, prende-se com o alojamento para estudantes. “Trata-se de um problema grave que todos temos sentido, especialmente neste período de início do ano letivo. Sabemos que o município não pode fazer tudo, mas importa perceber onde pode e deve atuar, nomeadamente no licenciamento ou na prioridade dada a estes projetos. No fundo, assumindo o papel de facilitador”, afirma o Provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto, António Tavares.
O movimento independente não pode estar mais de acordo: “O Porto é uma cidade de estudantes, uma cidade do conhecimento. No dia em que perdermos isso, perdemos a cidade”, afirma Filipe Araújo. Aliás, os esforços levados a cabo pelo município a este nível têm sido muitos, não só no apoio a projetos com este fim, mas também na identificação de edifícios propriedade da Câmara Municipal que possam ser recuperados e transformados em alojamento, como é o caso da Academia 24, localizada bem no centro da cidade e que acolhe 40 estudantes. A intervenção do município chega a outros níveis, como por exemplo o PDM, onde foram alterados critérios que permitem maior rapidez no processo e até maior atratividade neste tipo de investimento.
O excesso de burocracia e a necessidade de maior transparência com o cidadão foi outra das questões levantadas pelos responsáveis da Santa Casa: “Os impostos que todos pagamos têm de se traduzir em serviços. O Município deve informar onde foi gasto o dinheiro de cada um de nós”. Para o movimento o independente, o tema é de extrema importância e os dirigentes presentes na visita garantem que estão a trabalhar em soluções que possam mitigá-lo. “A título de exemplo, aproveito para partilhar que a descentralização na área da Educação veio mostrar o estado lastimável em que se encontrava o setor. Logo que assumimos a área começámos a trabalhar em várias frentes; não apenas no que respeita aos funcionários, mas também na rápida introdução de poupanças, com ações muito simples como a compra de energia e outros serviços comuns”, adianta o líder do Porto, o Nosso Movimento.
Dada a abrangência da atividade da Santa Casa no Porto, foram muitos os contributos lançados para a discussão e que permitiram uma reflexão aberta e construtiva por parte de todos os intervenientes. A antecipação dos desafios que o Turismo está a colocar às cidades, e que certamente se irão intensificar no Porto, é, do ponto de vista da instituição, urgente. Filipe Araújo concorda, mas reitera que, por exemplo, “o alojamento local não deve ser ostracizado, deve ser gerido. E já tivemos a iniciativa de o fazer em alguns campos, apesar de reconhecermos que existe um problema grave de alojamento ilegal na cidade. Mas, a esse nível, o município precisa de ferramentas para poder gerir a cidade, algo que políticas como o licenciamento zero não ajudam”.
No final, todos concordaram que no Porto ninguém pode ficar para trás, até porque existe na cidade uma grande vontade de trabalhar, participar e contribuir para a vida e bem-estar da comunidade. “É por isso mesmo que temos de acarinhar instituições como a Santa Casa da Misericórdia, que há mais de meio século contribui para a qualidade de vida dos portuenses. “O Porto é tão mais forte quanto mais fortes forem as suas instituições”, afirma Filipe Araújo.