José Mendonça considera que não será preciso perspectivar muito o futuro do Porto daqui a seis anos, porque o que vai acontecer em 2015 “já está planeado ou decidido”. Ainda assim, de acordo com o repto que lhe foi lançado pela Associação Cívica, entendeu apresentar três visões, todas elas partindo “da universidade, do conhecimento, da investigação, inovação e qualificação dos recursos humanos”.
De acordo com o professor catedrático, em primeiro lugar a cidade deve aproveitar “a rede de investigação e de ensino superior notável, incluindo o Politécnico”, como forma de reter os melhores talentos. Considerando que a Universidade do Porto tem as médias mais altas do país na maioria dos cursos e que tem “uma capacidade de atracção emergente de alunos estrangeiros”, José Mendonça diz que a sua visão número 1 é que a cidade tenha “um novo campus universitário e internacional, com capacidade para atrair estudantes habituados a pagar entre 50 a 100 mil dólares de propinas”.
Uma necessidade premente já que o campus da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto esgotou a sua capacidade, informou o presidente do INESC TEC. Por isso, para 2025 perspectiva “não só um novo campus universitário, como um reforço das áreas em que o Porto já é líder: saúde, energia, indústria, área digital, inteligência artificial”, entre outras.
A segunda visão está relacionada com a mobilidade e ambiente. “Temos de ser os melhores para atrair os melhores”, sublinhou. A nível ambiental, deu como exemplo o índice de qualidade do ar de Pequim, que está nos 750, classificado como valor “perigoso”, ao passo que a medição feita em Lordelo do Ouro aponta para os 28 valores, qualidade de ar “muito boa”.
Em 2025, José Mendonça espera, por isso, que o Porto seja uma cidade liderante nestas matérias, em convergência para a neutralidade de emissões, privilegiando os veículos híbridos e eléctricos, a energia solar e fotovoltaica, o transporte público qualificado, os modos suaves e mais espaços verdes. Um trabalho – sublinha – que deve ser feito em estreita parceria com os centros de investigação e com a Academia, de modo a aportar valor e a “trazer conhecimento da universidade para as políticas públicas”.
Por último, o professor catedrático quer ver mais estratégias concertadas da cidade com a Área Metropolitana e com a Região Norte, sem excluir a Academia, que tem uma rede que extravasa o Porto, “que pode ser instrumental” também para a obtenção dos fundos comunitários do Norte 2030 e Portugal 2030. “Há um conjunto de burocratas que está a discutir em Lisboa com Bruxelas, ‘sem dar cavaco’ aos que não estão em Lisboa”, alertou José Mendonça, que espera não ser depois “tarde demais, porque está tudo decidido”.
Em suma, a terceira visão do presidente do Conselho de Administração do INESC TEC pugna pela “concertação da cidade e da Região, utilizando as instituições e os cidadãos da Região, no contributo para definir políticas públicas também a nível nacional. É preciso essa multidisciplinaridade”, terminou.
Nota biográfica
Professor catedrático no Departamento de Engenharia e Gestão Industrial da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e presidente do Conselho de Administração do INESC TEC. Licenciou-se em Engenharia Electrotécnica na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e obteve o PhD em Engenharia Electrotécnica no Imperial College of Science and Technology do Reino Unido. É actualmente fellow do IC2 Institute da Universidade do Texas, em Austin, e membro do High-Level Group da Plataforma Tecnológica Europeia Manufuture. É ainda director nacional do Programa UT Austin Portugal e presidente do Conselho de Administração do CoLAB ForestWISE.
Entre outros cargos que exerceu, foi vice-presidente da Agência de Inovação, Administrador Executivo da Fundação Ilídio Pinho e administrador não-executivo de três empresas de base tecnológica. Foi ainda director científico da Rede UTEN, no Programa UT Austin Portugal, Delegado Nacional ao Comité de Programa em diferentes Programas Europeus de Investigação e coordenador e avaliador de diversos projectos europeus no âmbito do Programa ESPRIT.