Rui Moreira começou por relembrar os presentes “que, há quatro anos, o ecossistema cultural da cidade estava estagnado” e que, durante este período de tempo, a relação do Porto com a cultura mudou. E mudou para muito melhor. Não é à toa que este é um tema “caro” ao Nosso Partido é o Porto. Em 2013, quando o grupo de cidadãos eleitores do Porto venceu as eleições, as mudanças neste domínio começaram a surgir um ritmo frenético. Tanto que, esta tarde, Rui Moreira admitiu mesmo que “o rejuvenescimento do projecto cidade” foi fortemente influenciado por este vector, verdadeiro cimento dos outros dois pilares que o Movimento Independente definiu há quatro anos: a economia e a coesão social (em 2017, fruto da gestão do sucesso da cidade, existe um outro, o da sustentabilidade).
Relembrando o papel vital que nesta transformação a Câmara Municipal teve, Rui Moreira sublinhou o trabalho do seu vereador Paulo Cunha e Silva que, durante os 751 dias de mandato à frente do pelouro (interrompidos pela sua morte inesperada), foi o verdadeiro impulsionador do diálogo que o município desencadeou com os artistas da cidade, convocando-os e desafiando-os à reaproximação com os públicos do Porto. E conseguiu-o de forma sublime, através de centenas de iniciativas que se proliferaram a todos os quilómetros quadrados da cidade.
“VENCEMOS O CEPTISMO E A DÚVIDA. TAMBÉM NA CULTURA, CUMPRIMOS”
Desde logo, com projectos que não pareciam concretizáveis e que, no início, mereceram a desconfiança de muitas vozes. Certo é que o Rivoli foi devolvido à cidade e, a par do Teatro do Campo Alegre, elevado a Teatro Municipal. Na “cidade líquida” de Paulo Cunha e Silva, o Cultura em Expansão experimentou diferentes actos artísticos em novos territórios do Porto, outrora proscritos. “Mas nem foi esse aspecto territorial o mais importante”, admitiu Rui Moreira. Mais do que isso, todos os portuenses sentiram-se envolvidos na programação cultural da cidade, tornando-se mais do que meros espectadores. E, naturalmente, com o investimento que a Câmara Municipal fez na cultura, o crescimento económico dos agentes culturais foi estimulado.
Reabriram-se os cinemas no centro da cidade (e o projecto do novo cinema Batalha está em marcha).Há hoje salas cheias de gente, que comprovam que o Tripass é pertença de muitos portuenses. Optou-se por adquirir o Teatro Sá da Bandeira, impedindo que o seu fim não fosse o da produção cultural. Um Objecto e os Seus Discursos provou ser possível que as “estórias” da cidade estão por toda a parte, nos mais variados cenários e em aspectos inusitados. A partir de 2015, o Porto apresentou ao país e ao mundo o “Fórum do Futuro”, um espaço de pensamento único na Europa que, todos os anos, “provoca filas intermináveis à porta do Rivoli”, relembrou Rui Moreira. Há na Galeria Municipal uma programação de exposições contínua. Os museus da cidade foram rejuvenescidos e alguns estão a ser construídos de raiz. Registou-se um investimento na arte pública sem precedentes.
DEFINIÇÃO DAS LINHAS PROGRAMÁTICAS DA CULTURA PARA O PRÓXIMO QUADRIÉNIO
Sem querer apresentar exaustivamente as propostas para a cultura que tem idealizadas para o próximo mandato, nas Conversas à Porto desta quinta-feira, Rui Moreira não se escusou a “levantar o véu”, daquilo que será, em Setembro, apresentado em detalhe no seu Manifesto Eleitoral sobre a matéria. Nesse contexto, reiterou que o seu projecto cultural é “para continuar e para crescer”.
Desde logo, em quatro aspectos que traçou como primordiais: no apoio à criação artística; na descentralização da produção cultural; no incentivo à arte contemporânea e à divulgação dos seus artistas; e na promoção do debate, do pensamento e da reflexão da cidade.
Dando alguns exemplos concretos, estimulando a criação artística através do financiamento directo a diferentes programas, como é o caso da bolsa Criatório (que está prevista, em 2018, ser integrada na Plataforma Pláka), garantindo assim a sua “sustentabilidade futura”. Edificando um novo Museu do Vinho do Porto, mais próximo do rio e mais interactivo na forma como comunica este património histórico da cidade. Promovendo o policentrismo dos museus da cidade (neste momento, o Museu da História da Cidade está a ser construído no reservatório de água subterrâneo do parque da Pasteleira).
Permanecendo a cidade como palco para a cultura. Apostando nas residências artísticas. Cedendo o primeiro piso da Galeria Municipal para apresentações de artistas da cidade. No campo cinematográfico, desenvolvendo o Porto Film Comission, em articulação com a nova empresa municipal, e os municípios de Vila Nova de Gaia e Matosinhos. Apostando em centros informais de música contemporânea, através da recuperação de um espaço mítico na Ribeira, o Aniki Bobó (em co-produção com a Lovers & Lollypops e António Guimarães, mais conhecido por “Becas”). Ou divulgando internacionalmente um festival de pensamento único na Europa, o Fórum do Futuro.
“NÃO QUEREMOS FAZER OUTSOURCING DA CULTURA”
Caso venha a ser reeleito presidente da câmara, Rui Moreira já confirmou que vai avançar com criação da empresa municipal da cultura. Explica esta decisão como um instrumento facilitador para a planear o futuro cultural da cidade, também ele responsável por uma dinâmica económica interessante. Relembra, aliás, que a empresa combate “o trabalho precário”, “cria oportunidades de trabalho aos cidadãos” e vai, certamente, ter capacidade para “enraizar competências”.