Se em 2013, por altura das festas do São João, Rui Moreira já dizia nas ruas da Invicta que acreditava que o movimento O Nosso Partido é o Porto poderia vencer as eleições autárquicas, em 2017 parte exactamente com o mesma expectativa: com confiança e com humildade.

Na entrevista que esta noite deu ao Jornal das 8 da TVI, conduzida por Judite de Sousa, o presidente da Câmara do Porto e actual candidato ao mesmo cargo para o próximo quadriénio, não nega que “seria mais fácil ganhar as eleições no Porto com o apoio do PS”. Todavia, considerou também que não era aceitável para o grupo de cidadãos independentes estar à mercê de questões internas dos partidos.

Questionado sobre a governabilidade da cidade no período pós-eleitoral, Rui Moreira admitiu que, em primeiro lugar, o seu objectivo é vencer as eleições, mais do que pensar, desde logo, em obter maioria absoluta. Mas para o candidato independente à presidência da Câmara do Porto as regras são claras. “Eu entenderei o voto dos portuenses, se não tiver maioria absoluta, não farei coligação a qualquer preço”.

Na sua equipa, recentemente apresentada, surgem rostos da direita à esquerda. “Pessoas competentes e de carácter” de que Rui Moreira não prescinde para construir o seu projecto de cidade, embora, como acrescentou, não enjeite o que os portuenses decidirem nas urnas.

No final da entrevista em canal aberto, Rui Moreira salientou que as boas contas “à moda do Porto”, iniciadas à 16 anos no mandato de ex-presidente Rui Rio, são para perdurar. E acredita que é possível fazê-lo conciliando o rigor orçamental com as políticas activas aplicadas aos três pilares que a candidatura independente preconiza há quatro anos: Cultura, Coesão Social, Economia. Em 2017, soma-se um quarto pilar, fruto dos novos desafios que a cidade enfrenta: a Sustentabilidade.

Entrevista alargada na TVI 24

Após cerca de oito minutos em sinal aberto, a entrevista prosseguiu por mais cerca de 30 minutos na TVI24.

Entre os temas dedicados à cidade, Rui Moreira manifestou, uma vez mais, que congratulou-se pela decisão do Governo em rever a candidatura nacional à Agência Europeia do Medicamento, na sequência de todos os ofícios que encetou junto do Primeiro Ministro enquanto Presidente da Câmara do Porto. Nesse contexto, até ao final do mês de Julho, a Comissão encarregue de avaliar qual a cidade que melhor cumpre os critérios para a instalação da EMA anunciará se a decisão pende por Lisboa ou pelo Porto.

Relativamente à TAP, Rui Moreira mantém as críticas que fez há quase dois anos, partindo do pressuposto de que, ainda hoje, a TAP não é uma empresa privada, mas sim uma companhia de aviação onde todos contribuintes portugueses detêm 50%. Naturalmente, ao longo deste período, o mercado procurou “preencher o vazio deixado pela TAP”. Ainda assim, na opinião de Rui Moreira, a zona norte do país, reconhecida pelo seu cluster industrial na área do têxtil e do calçado, ficou a perder com a eliminação de muitas ligações áreas para a Europa e para o mundo a partir do aeroporto Francisco Sá Carneiro.

O boom turístico no Porto foi também objecto de análise na entrevista. Segundo Rui Moreira, é indelével a marca positiva que o turismo deixa na cidade, com “impacto directo na actividade económica do Porto”, essencialmente ao nível da regeneração urbana e da criação de emprego. “Mas tudo o que é bom, tem que ser regrado”, apreciou Rui Moreira, estabelecendo uma analogia ao pecado da gula.

Na sua óptica, chegou a hora de os municípios irem mais longe nas suas políticas habitacionais, porque há uma nova realidade que se impõe e que coloca novos desafios aos governantes locais. Em concreto, o rendimento das famílias não tem acompanhado o crescimento económico da cidade, o que lhes coloca sérios obstáculos no acesso ao mercado de arrendamento, essencialmente no centro do Porto, onde a reabilitação urbana disparou. Feito o diagnóstico, Rui Moreira defende uma nova política de habitação, que observe a cidade para lá do que as políticas habitacionais sociais têm feito.

Na sua perspectiva e na do movimento independente que encabeça, é preciso pois apostar na Sustentabilidade. Como pretende Rui Moreira, candidato à Câmara do Porto, a receita da taxa turística, que foi ontem aprovada em reunião de Executivo municipal, servirá para investir na reabilitação urbana, permitindo que a autarquia coloque no mercado da habitação casas a preços controlados no centro do Porto.