A cidade reclamava uma solução. Ela veio de forma pensada, estruturada e maturada com respeito pelo passado deste icónico equipamento, que apesar dos seus 43 metros quadrados, marca a vivência do Jardim do Marquês, sendo a sua associação dele indissociável.
O último uso que foi lhe conhecido tinha desvirtuado por completo a génese da sua construção, não sendo intenção da maioria independente eleita para a governação da cidade do Porto perpetuar a antiga Biblioteca Popular de Pedro Ivo como cafetaria. Era preciso definir um propósito que, embora não tivesse a pretensão de ser exatamente uma fotocópia do uso original do espaço – porque os tempos mudaram, porque felizmente a literacia da população melhorou substancialmente ao longo das últimas décadas, e porque felizmente também existe hoje uma profusão de bibliotecas, das municipais às escolares – pretendia adotar uma matriz agregadora, um projeto que aproximasse, somasse e incluísse.
Com base nestes pressupostos, diferentes equipas do Município do Porto gizaram um projeto cultural para a antiga Biblioteca do Marquês, projetada e executada em meados do século passado pelo arquiteto Bernardino Basto Fabião.
Pouco tempo antes de o equipamento reabrir portas com o projeto da Rádio Estação, do Museu da Cidade – que ali permanece até 15 de maio, com transmissão em 96.3 FM (num raio de 2 km) e através do sítio invisível do website do Museu da Cidade – concluiu-se a obra de reabilitação do edifício, realizada pela empresa municipal Domus Social.
A biblioteca sonora ao ar livre agora ali instalada dará lugar, de 17 de maio a 10 de julho, à segunda fase do programa experimental. Assume a liderança o Teatro Municipal do Porto, que vai aproveitar o espaço para apresentar, de forma mais estendida, o projeto europeu Moving Borders, do qual o Porto faz parte com mais seis cidades: Atenas, Varsóvia, Estrasburgo, Utrecht, Dresden e Mülheim an der Ruhr.
De 16 de julho a 12 de setembro, na terceira fase, o equipamento cultural vai funcionar como extensão da Feira do Livro do Porto, apresentando um programa em torno da figura que lhe dá o nome, o escritor Pedro Ivo.
O Batalha Centro de Cinema assume a quarta e última fase da programação, dos meses de outubro a dezembro, tempo durante o qual se vai apresentar uma obra fílmica comissariada a um projeto cooperativo de cinema do Porto.
Depois de demonstradas as potencialidades do espaço enquanto meio difusor de diferentes projetos de índole cultural, a Câmara do Porto quer entregar o equipamento à comunidade e, para isso, vai lançar uma convocatória, que poderá assumir a forma de concurso de ideias. Os projetos que considerem o carácter multidisciplinar e a ligação à história do espaço serão valorizados.