A começar pela recuperação paisagística do centenário Jardim Émile David, que completa a requalificação dos jardins históricos da cidade, depois das intervenções nos jardins do Passeio Alegre e de São Lázaro, disse o presidente do Conselho de Fundadores do Porto, o Nosso Movimento.
“Estava em muito mau estado, além de ter recebido muitas transformações” que adulteraram a sua configuração inicial, admitiu Rui Moreira. No projecto de requalificação, orçado em cerca de 740 mil euros, valorizou-se a reposição de elementos originais e a resolução de “graves patologias ao nível da drenagem das águas pluviais”, detalhou.
Na envolvente exterior, as duas casas de bilheteira vão ser restauradas pelo arquitecto Nuno Valentim, estando ainda previstas mais intervenções para harmonizar toda a frontaria do Palácio, desde a entrada franca pelo Jardim Émile David à entrada pela Avenida dos Plátanos, onde vai ser feito o alteamento do passeio e portão, privilegiando o trânsito pedonal.
Permeabilização dos percursos pedonais
Acreditando que é através dos percursos mecanizados que se vai permeabilizar a circulação pedonal nos Jardins do Palácio, tornando este eixo privilegiado na ligação entre a cota baixa e alta da cidade, Rui Moreira defendeu que a “revolução silenciosa” já se iniciou com a intervenção “invisível” na Avenida das Tílias.
“Não estragamos o imaginário das pessoas, que acham que está assim há muito tempo”, condescendeu o autarca, sem deixar de atestar que, até há poucos anos, “quase não se conseguia andar sem tropeçar”.
O certo é que a Feira do Livro do Porto, que se realiza naquela alameda desde 2014, contribuiu para esta percepção. Sobre o festival literário, que a Câmara assumiu há cinco anos, o presidente do Conselho de Fundadores da associação cívica reconhece que “a cidade correspondeu” e que o evento funcionou como antecâmara para um conjunto de outras actividades que o Município ali pretende desenvolver.
Antes disso, há que “vencer a terrível inclinação” dos diferentes níveis dos Jardins do Palácio e articular a mobilidade com a Alfândega. Neste momento, a primeira obra das ligações mecanizadas em Miragaia está adjudicada, informou Rui Moreira, e não tardará muito para que passe ao sector do Palácio de Cristal, que compreende, essencialmente, intervenção em dois núcleos: um, de maior escala, correspondente à zona da escarpa sul e Rua da Restauração, e outro de dimensão mais cirúrgica, com ligação directa aos Caminhos do Romântico.
De futuro, com a criação da Linha Rosa do Metro do Porto, estarão finalmente reunidas todas as condições de mobilidade suave para que o eterno Palácio se torne na nova centralidade da cidade. O que permitirá, por exemplo, “a quem vive em Miragaia e tenha de deslocar-se ao Centro de Saúde Materno Infantil” fazê-lo de forma rápida e sustentável.
Reabilitação da escarpa e consolidação dos muros está concluída
Entre as intervenções já concluídas no grande plano de requalificação dos Jardins do Palácio, procedeu-se, entre 2014 e 2017, à consolidação da escarpa e ao restauro dos torreões, num investimento que totalizou os 446 mil euros. A consolidação do muro, que “estava em muito más condições”, também foi realizada.
A estes investimentos definidos pelo Executivo de Rui Moreira somam-se a requalificação do parque infantil e do edifício de apoio aos jardineiros municipais.
Brevemente, vai avançar uma pequena empreitada para o novo acesso automóvel e a requalificação da cafetaria da Biblioteca Municipal Almeida Garrett. Além disso, como revelou Rui Moreira, a Câmara do Porto já pode executar a ampliação dos jardins, uma vez que já foi realizada a escritura da aquisição de um terreno na Rua de Entrequintas, através do exercício do direito de preferência.
“No Rosa Mota conseguimos o melhor de dois mundos”
Tendo sido feita a concessão a privados por um período de 20 anos, o investimento na requalificação do equipamento, que será sempre património municipal e vai regressar à esfera do Município após este período, foi totalmente custeado pelo consórcio vencedor “Porto Cem Porcento Porto”, que ainda se compromete a pagar uma renda mensal à Câmara no valor de 20 mil euros (totalizando cerca de 4 milhões de euros nas duas décadas).
Como recordou o autarca, tendo a última reabilitação – não estrutural – sido feita no tempo do ex-presidente da Câmara do Porto, Fernando Gomes, urgia dotar este emblemático equipamento de condições modernas que fizessem dele um novo pólo de animação, de desporto e de cultura, com capacidade para acolher os mais diversos tipos de eventos, entre os quais grandes congressos, até aqui fora do radar da cidade.
Pelo meio, houve várias tentativas de parcerias público-privadas que fracassaram, sobretudo por proporem à cidade projectos que iam alterar a traça original do equipamento, como um, em particular, que pretendia aumentar o Pavilhão até ao lago.
“Tínhamos esse trauma”, admitiu Rui Moreira, frisando que o modelo que o seu Executivo encontrou permitiu resolver um problema de décadas. “Aquilo que parecia improvável, que era a Câmara ceder o equipamento a privados e ainda lucrar com isso, foi possível com este modelo. Arriscámos e conseguimos o melhor de dois mundos”, concluiu.