O presidente do conselho de fundadores da associação cívica, Porto, o Nosso Movimento dá neste domingo uma entrevista à revista semanal do Jornal de Notícias (Notícias Magazine), em que deixa sublinhada que a maior certeza que tem é que o seu projecto político e pessoal passará sempre por viver na cidade.
Rui Moreira afirma que o movimento independente que nasceu, livre, no Porto não tem ambições nacionais e garante que não irá formar nenhum partido. Quer continuar a servir a cidade, pelo menos até ao final do segundo mandato, mas caso veja que o seu programa eleitoral não possa ser cumprido na totalidade, deixa em aberto a hipótese de se recandidatar ao terceiro mandato (algo, aliás, que em Abril já tinha sido admitido por Francisco Ramos, presidente da direcção do Porto, o Nosso Movimento, e seu amigo pessoal, em entrevista ao JN.
A relação com o Estado central também foi outros dos temas da entrevista, com o presidente da Câmara do Porto a não poupar críticas à “máquina” centralista que impediu, no passado, a regionalização de fazer o seu percurso, e travou hoje também o processo de descentralização que tinha sido desenhado entre Governo e as duas Áreas Metropolitanas na Cimeira de Sintra.
Enquanto não houver “uma reforma do sistema político”, o presidente da Câmara do Porto não tem dúvidas de que se continuarão a subscrever acordos como aquele que foi assinado com a Associação Nacional de Municípios Portugueses, que já tinha classificado de “miserável” e que nesta entrevista classifica de “pífio”.
Estranha, por isso, que o líder do PSD, Rui Rio, tenha respondido aos seus comentários, dizendo não ter por que se queixar, já que as câmaras municipais só têm de aplicar a lei-quadro da descentralização em 2021, e nessa altura já haverá outros presidentes de câmara. “Bem, até posso estar cá se quiser. Por outro lado, o que ele devia dizer era “a solução é tão boa que as pessoas deviam querer que fosse já implementada”, esclarece Rui Moreira na entrevista.
O Cultura em Expansão, projecto iniciado no anterior mandato autárquico e que pretende levar a cultura a toda a cidade, mesmo aos lugares considerados proscritos, é sinalizado pelo presidente da Câmara do Porto como “a obra de regime”. Mas há mais exemplos: uma obra emblemática, a da reconversão do Matadouro Municipal, “que cristaliza o nosso pensamento estratégico unindo os pólos social, cultural e económico”. Ou ainda o pavilhão Rosa Mota, que estará pronto em Abril do próximo ano, e a empreitada de reabilitação e modernização do Mercado do Bolhão, em curso. Tudo isto cimentado pelo princípio das boas contas, as designadas “contas à moda do Porto”.
Alexandra Tavares-Teles, jornalista que assina a entrevista, começou por perguntar a Rui Moreira o que é ser um homem do Porto. Pode ler online a entrevista aqui.
Uma entrevista a um homem do Porto. O que é ser um homem do Porto?
O Porto é uma cidade muito irresoluta. Muito inquieta, multo irrequieta, sempre a discutir-se a si própria. Curiosamente, tendo uma fortíssima autoestima – há até quem diga que de vez em quando tem a mais -, está sempre a rever a matéria dada, a querer discutir-se.
É uma vantagem?
Como pode ser uma desvantagem. Pode parecer que lhe falta rumo. O caso do Palácio de Cristal é o mais interessante. Quando foi feito, várias pessoas, desde logo Ramalho Ortigão, acharam que era terrível construir um “folly” num jardim inclinado sobre o Douro. Bom, lá foi construído e ali se fez a exposição internacional.
Nos anos 50, o edifício foi deitado abaixo para se fazer o pavilhão dos desportos, hoje pavilhão Rosa Mota, e toda a gente ficou a discutir, de novo, a obra. Agora, estamos a promover melhorias e dizem que o melhor seria deitar abaixo e reconstruir. Este permanente questionar é revelador do quanto o Porto gosta de si próprio. O Porto burguês e culto. Porto, liberal, com protagonismo, contestatário.
Reconhece-se nesse Porto?
Reconheço-me nesse Porto. O Porto da burguesia cultural do Porto, que Miguel Veiga explicou muito bem. Como no Porto não havia nomes que transmitissem cultura de pais para filhos, quem na cidade atingisse determinado status social sentia necessidade de proporcionar aos filhos a cultura que não recebeu de forma geracional. Assim se explica a influência de pessoas como Guilhermina Suggia, resultado de uma burguesia que não nascendo com cultura a procurava.
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