Na entrevista conduzida pela jornalista Ana Patrícia Carvalho, o presidente da Câmara do Porto diz ser normal sentir-se “injustiçado e prejudicado perante a opinião pública”, e que o seu bom nome é o maior património que tem.
Tal como tem vindo a partilhar noutros órgãos de comunicação social, sublinhou que quando chegou à Câmara do Porto, em outubro de 2013, a empresa que é da sua família já tinha um litígio com o município desde 2010. “A minha família tinha comprado um terreno que tinha capacidade construtiva e pretendia construir. Desde 2010 que a Câmara do Porto tentava encontrar com essa empresa uma solução que não obrigasse a pagar indeminizações. Candidatei-me em 2013 e, nessa altura, o terreno era inexoravelmente da família”, detalhou Rui Moreira.
“Comigo como presidente da Câmara, a Câmara não pagou qualquer indemnização à minha família. Mais do que isso, recuperou o terreno que não sabia que era da Câmara, e que a minha família tinha comprado no mercado”. “Estou com a consciência absolutamente tranquila”, reforçou.
Quanto à forma como esta fase instrutória se desencadeou, o presidente do conselho de fundadores do Porto, o Nosso Movimento lamentou novamente o facto de a juíza que apreciou o processo ter recusado a indicação da única testemunha que apresentou e que considera ser “peça-chave” neste enredo: o advogado externo que foi contratado pelo seu antecessor, Dr. Rui Rio, e que Rui Moreira nunca mandou substituir, como aliás fez com todos os intervenientes no processo, do diretor municipal do Urbanismo aos técnicos municipais, que se mantiveram os mesmos. Até a vereadora que interveio já ocupara um cargo executivo no tempo do anterior presidente da Câmara. Por contraste, lamentou que ao longo de quatro anos, o Ministério Público tenha ouvido todas as testemunhas que quis.
“Tenho absoluta consciência que nada fiz que lesasse a Câmara do Porto. Desde 2010, que se tentava resolver o problema com essa empresa a quem eram reconhecidos direitos adquiridos. Se alguém disser, para começo, que a minha família saiu beneficiada acho que está a imaginar São ossos do ofício, bem sei”, declarou.
Relativamente à altura em que este novo processo surge, Rui Moreira comentou que já em 2017, em vésperas de eleições, o Ministério Público formulou uma acusação que o acompanhou durante toda a campanha eleitoral, e que depois o mesmo Ministério Público chegou à conclusão de que “não tinha cometido nenhuma irregularidade” e arquivou o processo. “Passam quatro anos, há nova eleição, outro procurador, e o mesmo Ministério Público levanta o mesmo assunto em véspera de eleições. A população percebe bem estas coisas”, considerou.
“Há uma coincidência, que pode ser mera coincidência, entre o tempo da justiça e o tempo da política”, comentou ainda.
Rui Moreira disse que está a avaliar a possibilidade de se recandidatar à Câmara do Porto, (embora tenha deixado claro que sempre disse que considerava dois mandatos suficientes), tendo por base aquela que é também a avaliação dos portuenses, mas não só. “Estes tempos que vivemos, em que sucessivos ataques à cidade do Porto em matérias como a descentralização, o facto também de a pandemia ter causado alguns atrasos, tem-me feito meditar se me devo recandidatar ou não”, esclareceu.
“A Portofobia” mantém-se viva
Retirando um “julgamento popular” que um jornal tem feito à sua governação, e que desvaloriza, será nos portuenses que procurará as respostas. No caso de ser recandidato, também disse à SIC Notícias que “nenhum portuense vai ao engano e que os portuenses votam pela respeitabilidade do candidato”, entre outros fatores, como a sua visão de cidade.
“Não tenho nenhuma dúvida de que tenho condições [de ser candidato à Câmara do Porto]. Ando pela cidade e sei o que os portuenses pensam da nossa governação. Os portuenses acham que isto tudo é fumo”, afirmou Rui Moreira.
Na entrevista, foi ainda questionado sobre a jornalista quanto às reações dos diferentes partidos políticos ao caso, tendo comentado a postura que o PSD tem tido relativamente a esta matéria. “Lamento que façam uma campanha suja”. “O Dr. Rui Rio está a fazer está política em desespero. Sinceramente não pensava isso dele. Desiludi-me, é a vida”. Quanto ao Bloco de Esquerda, o presidente do conselho de Fundadores do Porto, o Nosso Movimento, desvalorizou as críticas, convicto de que a presença desta força política na cidade continuará a ser marginal.
Segundo Rui Moreira, lamentáveis, sim, são alguns comentários que tem ouvido nos últimos dias, que, na sua opinião, deixam evidente a “Portofobia” que ainda hoje persiste. “Ouvi alguns comentários a dizer que se isto fosse em Lisboa, já estava resolvido. O Porto, de vez em quando, incomoda os poderes da capital. Alguns dos portuenses acreditam que estão a ser vítimas de eu ser o seu porta-voz contra o centralismo dos poderes instituídos e dos partidos políticos”, concluiu.